Caso Amazon: Quanto valem os seus dados biométricos?
19;08.2021 – Por Alessandra Corrêa.
Recentemente a gigante do varejo Amazon ofereceu um cupom no valor de dez dólares em troca do cadastro da biometria da palma da mão dos clientes. Tal ‘promoção’ gerou polêmica em face da potencial violação dos dados pessoais e sensiveis dos clientes, especialmente no tocante ao tratamento dispensado. Enquanto a loja defende a melhoria da Experiência do Usuário (UX), discute-se a ação como tática barata de compra e autorização para armazenamento, tratamento e outras finalidades dos dados pessoais dos clientes Os dados pessoais servem para muitos fins, ainda mais quando cruzados com outros bancos de dados, potencializando o marketing e o consumo de produtos, mediante a customização da oferta e, também, pelos hábitos dos clientes.
Apesar de ser prática comum (e controversa) a uilização dos dados biométricos para desbloqueio de celular ou de outros dispositivos, a informação fica gravada exclusivamente na memória do aparelho. No caso em questão, ao cadastrar sua palma da mão, essa informação pessoal está indo para uma base de dados em nuvem (AWS da Amazon). Por consequência, as dúvidas são muitas: O que será feito com essas informações? Quem vai tratar esses dados? A empresa pode repassar essas informações para outras parceiras?
Sobre a proteção de dados dos clientes, a Amazon informou que projetou o Amazon One para ser altamente seguro, protegido por várias camadas de segurança e que as imagens da palma da mão nunca são armazenadas no dispositivo. Em vez disso, as imagens são criptografadas e enviadas para uma área altamente segura na nuvem – armazenamento de dados em um servidor online que dispensa o uso de memória local – onde é criada uma ‘assinatura palm”. A empresa também promete excluir do seu banco de dados as informações do cliente caso seja solicitado ou fique por um período de dois anos sem utilizar seu cadastro no Amazon One.
A preocupação do Parlamento é grande. Há poucos dias, legisladores dos EUA enviaram à empresa uma carta solicitando mais informações sobre como ela digitaliza e armazena os dados biométricos dos clientes para o uso em algumas de suas lojas de varejo, pois, a segurança dos dados é particularmente importante quando se trata de dados imutáveis do cliente, como as impressões palmares. Segue trecho:
“A expansão da coleta de dados biométricos da Amazon através do Amazon One levanta sérias questões sobre os planos da Amazon para esses dados e seu respeito pela privacidade do usuário, incluindo sobre como a Amazon pode usar os dados para fins de publicidade e rastreamento”.[…].“Em contraste com os sistemas biométricos como Face ID e Touch ID da Apple ou Samsung Pass, que armazenam informações biométricas no dispositivo do usuário, o Amazon One carrega informações biométricas para a nuvem, aumentando riscos de segurança únicos”, escreveram os senadores. “… (veja documento na íntegra aqui)
Essa Tecnologia foi lançada em setembro de 2020 e atualmente pode ser encontrada na Amazon GO, Whole Foods Market, Amazon Go Grocery, Amazon Books, Amazon 4-Star stores, e nas lojas de conveniência Amazon Pop Ups. A Empresa planeja oferecer o serviço a terceiros, como varejistas, estádios, e prédios de escritórios. O mundo atual passa pela discussão entre o ofercimento de facilidades, ao preço da privacidade, como podemos verificar no contexto do Reconhecimento Facial (abordaremos a questão em novos posts). O importante é perceber que as iniciativas ocidentais de mapeamento biométrico atendem aos interesses do mercado, cujo objetivo é o lucro. Daí a importância de se estabelecer salvaguardas aos dados de consumidores que não percebem, muitas vezes, o impacto do fornecimento de dados em seus hábitos de consumo. Afinal, todos sabemos que “não há almoço grátis”, ainda que se dê o voucher de 10 dólares.
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