6.5 Heurísticas e Vieses: Rol para Uso

<bibliografia>

Guia, p. 198: WOJCIECHOWSKI, Paola Bianchi: MORAIS DA ROSA, Alexandre. […] “[…] teologicamente guiado pela busca de padrões coerentes o Sistema 1 confundirá familiaridade e conforto cognitivo com ilusões de veracidade. Em outras palavras, quanto mais consistente e coerente for a história gerada a partir dos inputs do Sistema 1, mais o Sistema2 vai tender a simplesmente endossá-la, sem modificações.[…] Não se olvide, o Sistema 1 está, a todo momento, criando padrões coerentes de ideias buscando conforto cognitivo, de tal sorte que a consistência de sua narrativa, não raras vezes, aumentará à medida que diminui a quantidade de informação”.

Guia, p. 198: COSTA, Eduardo José da Fonseca. […] “Nesse sentido, produzem-se ‘atalhos cognitivos’ (cognitive shortcuts) ou ‘regras de ouro’ (rules of thumb), a partir das quais as pessoas realizam julgamentos simplificados sem que tenham de tomar em consideração todas as informações relevantes e contando apenas com um conjunto limitado de pistas”.

Guia, p. 198: STERNBERG, Robert J. Psicologia Cognitiva. Trad. Anna Maria Luche. São Paulo: Cengage Learning, 2012, p. 432. “consideramos as opções individualmente e, então, selecionamos uma opção logo que encontramos aquela que é satisfatória ou suficientemente boa para atender ao nosso nível mínimo de aceitabilidade. Não levamos em consideração todas as possíveis opções e, então, julgamos cuidadosamente quais entre todo o universo de opções maximizará nossos ganhos e minimizará nossas perdas. Desse modo, examinaremos o menor número possível de opções necessário para chegar a uma decisão que, acreditamos, satisfará nossas exigências mínimas. Algumas provas indicam que, quando existem disponíveis recursos limitados de memória de trabalho, pode haver aumento do uso da satisfatoriedade para tomar decisões. Evidentemente, a satisfatoriedade é apenas uma entre diversas estratégias não tão boas que as pessoas podem usar”. 

Guia, p. 199: MATLIN, Margaret W. Psicologia Cognitiva. Trad. Stella Machado. Rio de Janeiro: LTC, 2004, p. 284: “A formulação de uma pergunta pode influir nas decisões, de modo que as pessoas evitam riscos quando a formulação implica ganho e buscam risco quando ela implica perda. Esses efeitos de enquadramento têm sido continuamente verificados em diversas situações. O trabalho de Frisch (1993) esclarece que as pessoas têm razões diferentes para sofrerem a influência dos efeitos do enquadramento. As pesquisas sobre esse efeito sugerem mesmo algum conselho prático: quando estiver tomando uma decisão importante, procure reformular a descrição da situação em que se encontra. Suponha, por exemplo, que você está buscando decidir sobre a carreira de seus sonhos. Pergunte a si mesmo como se sentiria investindo nessa opção e pergunte também como se sentiria não o fazendo”.

Guia, p. 199: ELLENBERG, Jordan. O poder do pensamento matemático: a ciência de como não estar errado. Trad. George Schesinger. Rio de Janeiro: Zahar, 2015, p. 131: Quando dizemos que um resultado é improvável, estamos sempre dizendo, explicitamente ou não, que ele é improvável segundo determinado conjunto de hipóteses que fizemos sobre o mecanismo subjacente do mundo.

Guia, p. 199: MATLIN, Margaret W. Psicologia Cognitiva. Trad. Stella Machado. Rio de Janeiro: LTC, 2004, p. 276: “Como sabe, uma correlação é uma relação estatística entre duas variáveis, mesmo que não haja evidência real dessa relação. Assim, ocorre uma correlação ilusória quando as pessoas acreditam que duas variáveis sejam estatisticamente relacionadas, mesmo não havendo evidência real dessa relação. De acordo com diversos estudos, muitas vezes acreditamos que certo grupo de pessoas tende a ter certos tipos de características, embora uma classificação exata mostre que a relação não é estatisticamente significativa. Pense em alguns exemplos de estereótipos que surgem das correlações ilusórias. Estas podem ou não ter base de fato; podem até ter muito menos base do que comumente se acredita. Vaja as seguintes correlações ilusórias: as mulheres não são boas em matemática, as loura se não são muito inteligentes, homossexuais masculinos e femininos têm problemas psicológicos, e por aí vai. De acordo com uma importante abordagem atual, nossos estereótipos são influenciados por processos cognitivos, como a disponibilidade”.

Guia, p. 200: STERNBERG, Robert J. Psicologia Cognitiva. Trad. Anna Maria Luche. São Paulo: Cengage Learning, 2012, p. 442: “a supervalorização que uma pessoa faz de suas próprias aptidões” (…) “Em geral, as pessoas tendem a superestimar a precisão de seus julgamentos. Por que as pessoas demonstram excesso de confiança? Uma razão é que as pessoas podem não perceber o quão pouco conhecem. Uma segunda razão é que podem entender o que estão supondo quando se valem do conhecimento que possuem. Uma terceira razão pode ser não saberem que suas informações originam-se de fontes não confiáveis. (…) O motivo pelo qual tendemos a manifestar excesso de confiança em nossos julgamentos não está claro. Uma explicação simples é que preferimos não pensar na possibilidade de estarmos errados”.

Guia, p. 200: GOULART, Bianca Bez. Análise Econômica da Litigância: entre o modelo da escolha racional e a economia comportamental. Florianópolis: UFSC (Dissertação – Direito), 2018, p. 127. “A heurística do excesso de confiança, nesse contexto, pode agravar a situação de cegueira quanto à atuação dos vieses cognitivos e das heurísticas. As pessoas possuem a tendência de ser altamente confiantes em suas ponderações, respostas ou julgamentos, o que significa, olhando o outro lado da moeda, que há certa dificuldade em admitir dúvida, eventual ambiguidade ou incerteza quanto à questão apresentada”.

Guia, p. 201: MORAIS DA ROSA, Alexandre;  TOBLER, Giseli. […] “Em face da complexidade do Direito, bem assim para evitar reflexão todo o tempo, acabamos adotando padrões de comportamento, resultado das experiências passadas, das pressões internas e externas, situação que
se estende à tomada de decisão judicial. O Sistema S2, por sua vez, igualmente exposto por Kahneman, embora seja o mecanismo ideal de tomada de decisão, sobretudo, nos
julgamentos penais, por apresentar como características a postura consciente, racional, voluntário, reflexivo e deliberado, demandaria muito tempo, razão pela qual o conforto decisional (súmulas, decisões consolidadas etc.), acaba sendo o atalho da decisão”.

Guia, p. 201: MACKAAY, Ejan; ROUSSEAU, Stéphane. Análise Econômica do Direito. Trad. Rachel Sztajn. São Paulo: Atlas, 2015, p. 35: “Não avaliamos corretamente as pequenas probabilidades. Elas são ignoradas. Não se justificaria toma-las mais a sério do que o risco ‘objetivo’. A superavaliação do risco aparece, especialmente, quando nos damos conta de um quadro vivo de perigo. Não podendo julgar diretamente as probabilidades, o espírito humano simplifica o problema apelando para a heurística disponível (availability heuristic), que nos fará decidir em função do exemplo que ainda está fresco na meória (espírito). Quando um avião cai, algumas pessoas desistem das reservas de voos em que deveriam embarcar nos dias próximos do acidente. Somos, igualmente, e com frequência, prisioneiros da ‘gambler’s ruin’. Se em julho chove, em média, três dias, mas choveu cinco dias desde o início do mês (de julho), acreditamos que, forçosamente, o restante do mês será de tempo bom”.

Guia, p. 201: STERNBERG, Robert J. Psicologia Cognitiva. Trad. Anna Maria Luche. São Paulo: Cengage Learning, 2012, p. 440: “Exemplos de cobertura distorcida poderiam ser a cobertura sensacionalista da imprensa, propaganda extensiva, o caráter recente de uma ocorrência incomum ou preconceitos pessoais. Geralmente, tomamos decisões nas quais os casos mais comuns são os mais relevantes e valiosos. Em tais casos, a heurística da disponibilidade representa, muitas vezes um atalho conveniente com poucos encargos. No entanto, quando casos particulares são mais bem lembrados por causa de distorções (por exemplo, sua visão de seu próprio comportamento em comparação com aquela das outras pessoas), a heurística da disponibilidade pode conduzir a decisões que deixam a desejar”.

Guia, p. 201: MATLIN, Margaret W. Psicologia Cognitiva. Trad. Stella Machado. Rio de Janeiro: LTC, 2004, p. 274-275: “Um artigo no New England Jornal of Medicine destaca como as decisões dos médicos podem sofrer a influência do efeito de recenticidade. O artigo relata o caso de um médico que relutava em recomendar determinado procedimento clínico porque pouco antes havia visto se desenvolver um transtorno neurológico grave em um paciente seu que passara por tal procedimento. Conforme destacaram os autores do artigo, ‘Lembrar um paciente que sofreu uma complicação é um exemplo de heurística da disponibilidade’. (…) Outras pesquisas sugerem implicações para a psicologia clínica. MacLeod e Campbell (1992) descobriram que, quando as pessoas eram encorajadas a lembrar eventos agradáveis do passado, avaliavam esses eventos mais prováveis no seu futuro. Ao contrário, quando eram encorajadas a lembrar eventos desagradáveis, consideravam estes mais prováveis”.

Guia, p. 202: DAVIS, Morton David. Teoria dos Jogos: uma introdução não-técnica. Trad. Leonidas Hegenberg e Otanny Silveira da Mota. São Paulo: Cultrix, 1973, p. 74: A história de cada um – o êxito que até o momento hajam alcançado no jogo – influencia a atitude diante do risco.

Guia, p. 202: STERNBERG, Robert J. Psicologia Cognitiva. Trad. Anna Maria Luche. São Paulo: Cengage Learning, 2012, p. 438: “Outra razão pela qual, muitas vezes, usamos a heurística de representatividade é o fato de acreditarmos erroneamente em pequenas amostras (por exemplo, de eventos, de pessoas, de características) assemelham-se em todos os aspectos da vida a população da qual a amostra é obtida. Tendemos particularmente a subestimar a possibilidade de que as características de uma pequena amostra (por exemplo, as pessoas que conhecemos bem) de uma população representam inadequadamente as características de toda a população”.

Guia, p. 203: GOULART, Bianca Bez. Análise Econômica da Litigância: entre o modelo da escolha racional e a economia comportamental. Florianópolis: UFSC (Dissertação – Direito), 2018, p. 127. “[…]não se pode olvidar que o magistrado pode permanecer ancorado a uma decisão liminar anterior ou a alguma manifestação apresentada por uma das partes. Não é incomum, inclusive em razão da pressão por resultados, pela necessidade de cumprir metas, pelo número de processos em gabinete e pela eventual carência de pessoal e de infraestrutura, que os magistrados revisitem decisões proferidas ao longo do processo antes de prolatarem a sentença terminativa. Quer-se dizer, portanto, que esse estado de coisas do Poder Judiciário brasileiro, no qual se encontra o juiz, contribui para a atuação dos vieses cognitivos, sobretudo da heurística da ancoragem e do viés confirmatório. E quando estes elementos subjetivos se somam ao viés egocêntrico, mais dificultosa se torna a missão de conscientizar os operadores e os profissionais do direito acerca da existência desses atalhos cognitivos, pois, embora vulneráveis a eles, a crença de que se está acima da média pode levar a uma percepção de imunidade ou de resistência psicológica”.

Guia, p. 204: HAMANN, Ariane. A perpetuação das primeiras impressões por meio das decisões judiciais no processo penal: a primeira impressão é a que fica. Florianópolis: UFSC (Direito – Monografia), 2016, p.12-13: “Para Brewer, a formação de impressões será resultado de um processo de até “quatro etapas: identificação inicial, categorização/tipificação, personalização e individualização. Não necessariamente todas ocorrerão, pois o processo se encerra no momento em que a impressão é criada. De acordo com esse modelo, a mera apresentação de uma pessoa ativa automática e inconscientemente processos de classificação. Na fase de identificação (primeira vista), analisa-se previamente as características físicas básicas da pessoa (cor, sexo, idade, etc.), com isso, em alguns casos, opera-se uma categorização prévia. Caso essa categoria percebida seja permeada por um estereótipo, o processo termina aqui mesmo, sendo que as demais fases que deveriam ser percorridas são deixadas de lado pela certeza oferecida pelo estereótipo. O que normalmente ocorre é que quando a pessoa observada não é muito importante pessoalmente para o observador, este acaba utilizando apenas o processamento automático, inconsciente, baseado em categorias, porém, quando há um maior envolvimento com a pessoa observada, opta-se racionalmente pelo processamento mais controlado, seguindo as demais etapas”.

Guia, p. 205: MATLIN, Margaret W. Psicologia Cognitiva. Trad. Stella Machado. Rio de Janeiro: LTC, 2004, p. 286-287: “Em 1979, um homem chamado Lawrence Singleton atacou uma jovem que lhe pedira carona na Califórnia. Ele foi condenado a quatorze anos de prisão, mas cumpriu pena por oito – foi solto condicionalmente antes do tempo, por bom comportamento. Singleton então mudou-se para sua cidade natal na Flórida, onde viveu tranquilo por cerca de dez anos. Em 1997, atacou outra mulher, que morreu devido a golpes de várias facadas. Como pode imaginar, as pessoas se sentiram ultrajadas pelo fato de as autoridades da Califórnia terem posto Singleton em liberdade antes do tempo. Contudo, lembre-se de que Singleton tinha sido um prisioneiro modelo; pelas informações que tinham, as autoridades podem ter tomado a decisão certa. Repare como aqui está atuando um viés retrospectivo. Enquanto lia sobre Lawrence Singleton, não se sentiu tentado a concluir que as autoridades tinham sido tolas e inconsequentes por lhe concederem liberdade condicional precoce? Talvez você tenha superestimado a capacidade de elas preverem que Singleton voltaria a causar dano a alguém”.

Guia, p. 205: MATLIN, Margaret W. Psicologia Cognitiva. Trad. Stella Machado. Rio de Janeiro: LTC, 2004, p. 288: “A pesquisa de Carli [1999] nos ajuda a entender por que muitas pessoas ‘culpam a vítima’ depois de um fato trágico como um estupro. Na realidade, o que a pessoa fez antes pode ter sido perfeitamente apropriado. Contudo, as pessoas muitas vezes deixam de procurar no passado as razões pelas quais a vítima mereceu aquele resultado”. 

Guia, p. 205: GOULART, Bianca Bez. Análise Econômica da Litigância: entre o modelo da escolha racional e a economia comportamental. Florianópolis: UFSC (Dissertação – Direito), 2018, p. 127: “Não apenas os advogados e as partes estão à mercê da atuação do viés egocêntrico. Conforme pontua Theodore Eisenberg, os juízes tendem a se considerar “justos, eficientes e diligentes”, fator que pode dificultar a mitigação do campo de atuação do viés confirmatório. Se, eventualmente, o juiz se percebe como um profissional superior à média, é provável que tenha mais dificuldade de enxergar a atuação do viés confirmatório, que se refere à tendência de utilizar, procurar ou interpretar informações de forma que estas corroborem as suas preconcepções”.

Guia, p. 205: GLOECKNER, Ricardo Jacobsen. Prisões cautelares, confirmation bias e o direito fundamental à devida cognição no processo penal. Revista Brasileira de Ciências Criminais, vol. 117, ano 23, p. 263-286, São Paulo: RT, nov-dez, 2015, p. 277: A confirmation bias se apresenta sob a forma de dois mecanismos: (a) primeiramente, na seleção da informação considerada relevante (aquela que confirma a crença) e (b) uma interpretação preferencial da informação disponível.

Guia, p. 206: SHAROT, Tali. O víes otimista: por que somos programados para ver o mundo pelo lado positivo. Trad. Ana Beatriz Rodrigues. Rio de Janeiro: Rocco, 2015, p. 17. “O viés otimista significa, “a tendência a superestimar a probabilidade de viver eventos positivos no futuro e substimar a probabilidade de viver eventos negativos”

Guia, p. 206: O Flamengo foi campeão do mundo (1982) porque tinha um time complementar e coeso, em que planejamento do técnico operava dentro de campo por um meio campo coeso (Zico, Adílio e Andrade), enquanto o ataque tinha matadores (Lico e Nunes). Fomos campeões novamente em 2020. A comutação, isto é, a troca de funções/posições dos mesmos jogadores poderia ser um desastre. Para cada função devemos ter um jogador capaz de exercer as atribuições com boa performance. Um excelente meio-campo pode ser um pífio atacante. Não podemos ser otimistas demais.

Guia, p. 207: STERNBERG, Robert J. Psicologia Cognitiva. Trad. Anna Maria Luche. São Paulo: Cengage Learning, 2012, p. 25: “Pode-se perceber, aprender, recordar, raciocinar e solucionar problemas com enorme precisão. Isso ocorre mesmo com uma grande quantidade de estímulos. Qualquer estímulo pode desviar o indivíduo do processamento adequado de informação. Todavia, os mesmos processos que nos levam a perceber, recordar e raciocinar com precisão na maioria das situações, também podem nos levar ao erro. Nossas recordações e raciocínios, por exemplo, são suscetíveis a certos erros sistemáticos bem identificados. Por exemplo, à medida que se percebe o quanto aprendeu a respeito da disponibilidade heurística, a tendência é supervalorizar a informação que já está disponível, e isso ocorre mesmo quando a informação não é totalmente relevante ao problema em questão”.

Guia, p. 207: TETAZ, Martín. Psychonomicks: como o funcionamento da mente ajuda e define nosso comportamento consumidor. Trad. Carolina Caries Coelho e Olga Cafalcchio. São Paulo: Objetiva, 2018, p. 111: “Se desenvolvemos heurísticas e estamos infectados de vieses em nosso raciocínio para dar sentido ao mundo a partir de nossas limitações, o caso da teoria da mente não é uma exceção, e a maneira como desenvolvemos nossas estratégias de comportamento, que levam em conta a reação dos outros, também está carregada de regras de comportamento que talvez não se baseiem em raciocínios tão sofisticados como os que Von Neumann acreditava que tivéssemos”.